Em seu livro A Riqueza das Nações, Adam Smith explicou a lógica do capitalismo por meios das operações e dos interesses do açougueiro, do padeiro e do cervejeiro. Para Smith, o capitalismo é uma relação complexa de interesses interligados e regidos pela mesma lógica das engrenagens de um relógio em funcionamento.
Na prática, os bens e serviços produzidos pelo açougueiro, pelo padeiro, pelo cervejeiro, assim como os de tantas outras profissões e empresas de pequeno porte, são importantes para movimentar a complexa engrenagem da economia local que, por sua vez, faz rodar a economia nacional e a mundial.
Atualmente, os empreendedores por oportunidade estão em alta e se fazem presentes em todos os segmentos da economia, entretanto, é necessário levar em conta o número de empreendedores por necessidade. Além de representar uma grande parte dos empreendedores globais, eles também são importantes para a economia de qualquer cidade ou país.
A última pesquisa do GEM – Global Entrepreneurship Monitor registrou um aumento expressivo no número de empreendedores por oportunidade. Segundo a pesquisa, o número saltou de 42% para 69,2% nos últimos dez anos. Embora o universo pesquisado no Brasil tenha sido de apenas dez mil pessoas, esse número representa em torno de 32 milhões empreendedores.
De acordo com os critérios da organização que coordenou a pesquisa em 69 países ao redor do mundo, empreendedores por necessidade são aqueles que iniciam um negócio autônomo por não possuírem melhores opções de trabalho, portanto, abrem um negócio a fim de gerar renda para si e para suas famílias.
Por outro lado, empreendedores por oportunidade optam por iniciar um novo negócio mesmo quando possuem alternativas de emprego e renda ou ainda para manter ou aumentar sua renda pelo desejo de independência no trabalho.
O que a pesquisa não demonstra é o número de microempreendedores espalhados ao redor do mundo. Em qualquer lugar do planeta, o microempreendedorismo não se limita aos feirantes, camelôs, catadores de lixo reciclável e os chamados trabalhadores de fundo de quintal.
No Peru, por exemplo, 69% dos lares urbanos que vivem com menos de 2 dólares por dia são considerados microempreendedores. Na Índia, 40% de atividades independentes dos moradores urbanos mais pobres são realizadas por conta própria.
Os produtores rurais dos países em desenvolvimento também são microempreendedores. Na Bolívia, eles apresentam um índice de atividade empreendedora três vezes superior ao dos norte-americanos e cinco vezes maior do que o do Reino Unido.
No Brasil, os microempreendedores giram a economia por meio de negócios criados dentro de casa, nas garagens, nas ruas e na própria Internet, onde se pode comprar e vender de tudo, desde que se possa fazê-lo de maneira legal e rentável.
Devemos lembrar que as empresas de grande porte constituem apenas 1% das empresas legalmente constituídas. As demais, 99%, são empresas de micro, pequeno, médio e grande porte, formais e informais, que respondem por mais de 60 milhões de empregos no Brasil.
Considerando tudo isso, temos um contingente expressivo de empreendedores informais, cuja riqueza produzida equivale a 60% da riqueza gerada pelas pequenas, médias e grandes empresas existentes no mundo, segundo dados da Organização Mundial do Comércio.
De maneira geral, os microempreendedores tem um imenso poder nas mãos. Por uma questão de sobrevivência ou necessidade, eles movimentam a economia local e mundial por meio do consumo necessário para gerar negócios nas suas próprias microempresas.
Quando se trata de empreender, não importa se você é micro, pequeno, médio ou grande empreendedor. O que importa é que o seu negócio também produz riqueza, portanto, torna-se interessante para toda a cadeira geradora de negócios, além de distribuir renda de maneira mais eficiente do que muitos governos.
Como microempreendedor, talvez você precise apenas de um empurrão para superar os mais indignos obstáculos e isso, infelizmente, não é tão fácil de conseguir. Mas não se pode esmorecer, afinal, diferente do século passado, o mundo atual está muito mais dinâmico e bem mais disposto a premiar aqueles que não medem esforços para produzir bens e serviços capazes de melhorar a vida das pessoas.
Fonte: Jeronimo Mendes
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